Wednesday, May 30, 2007

Todo o português que se preze sabe escrever!


No meu emprego existe uma pessoa que foi contratada especificamente para fazer a revisão de todos os textos produzidos pelos colegas .

Pergunto-me, para quê o dispêndio de dinheiro, se todos sabemos escrever tão bem. Somos cerca de 90 espertos que gostamos de corrigir o que enviámos para corrigir pela pessoa responsável pelas correcções. Risível, não? Seria de rir se não fosse denunciador da nossa incultura e incapacidade de ser corrigidos. Não sabemos aceitar uma crítica, nem uma correcção, somos perfeitos.

Se não nos custa admitir que não sabemos fazer uma simples conta de multiplicar por que será que temos tanta dificuldade em admitir que não sabemos escrever, pelo menos sem erros ortográficos.

Enfim, a nossa "revisora" diverte-se com a necessidade de afirmação de algumas das pessoas que a rodeiam, e às vezes sai cá cada palermice... Já diz o ditado "Albarda-se o burro à vontade do dono."

E somos todos uma grande família feliz, regressamos a casa com a noção de que somos mesmo bons: - Então, não é que corrigimos uma frase da revisora? E certamente ainda comentamos, entredentes: - Deviam era dar-me a mim o ordenado dela!

Um mimo!

Mandar os Políticos à Fava

Eis uma atitude que aplaudo. Compreendo o desespero e lamento as consequências, sofri-as, também, na pele. Pena é que não haja mais pessoas com coragem para o fazer.
Parabéns, anónimo.

Tuesday, May 29, 2007

Grande Máxima

"Não sabe nada e pensa que sabe tudo. Espera-o uma carreira política."
Já o dizia G.B. Shaw
Eu acrescentaria que o espera uma carreira política de sucesso.
Já experimentaram construir uma nota sobre o percurso profissional de um político? Sobretudo daqueles que o único trabalho que tiveram foi o de filiarem-se num Partido depois da Faculdade, do Liceu, ou mesmo da Escola Primária (Ensino Básico, actualmente).
Eis um bom desafio. Garanto-lhes que é difícil, senão impossível, mesmo com a internet como ajuda. E o mais curioso é que são eles que estão sempre nos "cargos-chave", naqueles cargos que interferem com o bem-estar dos cidadãos comuns, com a qualidade de vida dos portugueses. Normalmente, cada um detém várias dessas "posições" que lhe dão mais do que um único ordenado confortável, carro e telemóvel de primeiríssima geração, férias numa ilha tropical. Nem precisam de comprar bilhetes para os espectáculos de ballet, ópera, dança, música, pois tudo lhes é oferecido. Tudo isto é válido para família, afins e amigos.
Se soubesse o que sei hoje, a primeira coisa que tinha feito ao entrar para a Faculdade era inscrever-me num desses dois partidos políticos que têm, à vez, dançado com as cadeiras e engordado à custa do nosso desespero. Nesta altura, não estaria certamente aflita para conseguir pagar os aumentos sucessivos dos juros da casa...

Monday, May 28, 2007

Adeus à Saga do Pilas e outras histórias

Lamento informar-vos, fãs do Pilas e da sua saga, de que me fartei de tudo: do Pilas, da saga, da escrita, do dia-a-dia, em suma, deste país.
Não, não vou regressar à Roménia, país que aliás desconheço, vou mesmo partir para mais longe; adquiri um pedaço de terreno na Lua, com um dinheiro arranjado por um amigo que sempre fez vida partidária, maçónia, sei lá, um desses lóbbis que permitem aos portugueses trabalharem e vingarem em Portugal.
Estou out.
O Pilas que me perdoe. Partamos para outros terrenos.
LTM, MLT, MTL, TLM, etc.....

Sunday, May 27, 2007

Pour toi Sirob Naiv e pour tous les tois qui se sont allés

Cet Amour

Cet amour
Si violent
Si fragile
Si tendre
Si désespéré
Cet amour
Beau comme le jour
Et mauvais comme le temps
Quand le temps est mauvais
Cet amour si vrai
Cet amour si beau
Si heureux
Si joyeux
Et si dérisoire
Tremablant de peur comme un enfanto dans le noir
Et si sûr de lui
Comme un homme tranquille au milieu de la nuit
Cet amour qui faisait peur auz autres
Qui les faisait parler
Qui les faisait blêmir
Cet amour guetté
Parce que nous le guettions
Traqué blessé piétiné achevé nié oublié
Parce que nous l’avons traqué blessé piétiné nié oublié
Cet amour tout entier
Si vivant encore
Et tout ensoleillé
C’est le tien
C’est le mien
Celui qui a été
Cette chose toujours nouvelle
Qui n’a pas change
Aussi vraie qu’une plante
Aussi tremblant qu’un oiseau
Aussi chaude aussi vivante que l’été
Nous pouvons tous les deux
Aller et revenir
Nous pouvons oublier
Et puis nous rendormir
Nous réveiller souffrir vieillir
Nous endormir encore
Rêver à la mort
Nous éveiller sourir et rire
Et rajeunir
Notre amour reste là
Têtu comme une bourrique
Vivant comme la mémoire
Bête comme les regrets
Tender comme le souvenir
Froid comme le marbre
Beau comme le jour
Fragile comme un enfant
Il nous regarde en souriant
Et il nous parle sans rien dire
Et mois j’écoute en tremblant
Et je crie
Je crie pour toi
Je te supplie
Pour toi et pour nous tous ceux qui s’aiment
Et qui se sont aimé
Qui je lui crie
Pour toi pour moi pour tous les autres
Que je ne connais pas
Reste là
Là où tu étais autrefois
Reste là
Ne bouge pas
Ne t’en vas pas
Nous qui sommes aimés
Nous t’avons oublié
Toi ne nous oublie pas
Nous n’avions que toi sur la terre
Ne nous laisse pas devenir froids
Et n’importe où
Donne-nous signe de vie
Beaucoup plus tard au coin d’un bois
Dans la forêt de la mémoire
Surgis soudain
Tends-nous la main
Et sauve-nous.

Jacques Prévert
“Paroles”

Monday, May 14, 2007

A SAGA DO PILAS - A perder o fôlego e o interesse

Por seu lado, no dia do fatídico encontro, o Pilas não fazia a mais pálida ideia de quem era o Doutor Camilo com quem tinha de ir lanchar, e a bem dizer, nem lhe interessava. Vivia à farta os seus 10 anos, sentindo-se o rei da paróquia. Dadas as circunstâncias sociais e “ambientais”, o seu linguajar era bastante livre (para não dizer chocante). Assim, nem a vontade interesseira de, através da conquista do filho, reconquistar a mãe fez com que o Senhor Doutor tivesse vontade de tentar uma segunda abordagem. Até o local escolhido para o encontro parecia ter sido escolhido, a dedo, com o objectivo daquilo não resultar: a Ferrari.

Para que não restem dúvidas, eis o relato fiél dos acontecimentos do dito dia D (D de Desastre e de Desencontro): numa 5ª feira - e após muitas combinações feitas e desfeitas à última da hora, devido a todo o tipo de imprevistos - o Camilo mandou o motorista da sua digníssima esposa buscar o Pilas à escola.

Primeiríssima asneira.

O homem lá foi, calmo e disciplinado, inconsciente dos tormentos que o esperavam. Chegou às quatro e meia da tarde, em ponto. Pensava, assim, assegurar a pontualidade que era vital no seu trabalho. Aliás, estava convencido que teria tempo de sobra para chegar à Ferrari, à hora habitual do lanche do Senhor Doutor – às cinco e meia. Estacionou o carro mesmo à frente do portão da escola e ali ficou, rígido e correcto na sua farda, à espera do menino. Foi aguardando: 5, 10, 15 minutos e nada. Aos 20 minutos de espera paciente, começou a ficar nervoso com o avançar da hora, pois sabia bem como o Senhor Doutor abominava esperar. Saiu do carro para esticar as pernas, tentando descontrair-se. Receou ter baralhado a descrição do rapaz que lhe fora dada, muito por alto. Às cinco horas entrou em desespero: não sabia o que fazer.

Meu Deus! O que é que hei-de fazer à minha vida? E tinha isto de me acontecer logo com o Senhor Doutor que odeia esperar. O estupor do miúdo ainda me vai fazer perder o emprego. Mas, afinal, de quem será este puto, para merecer tantas atenções? Essa história que o Senhor Doutor tentou vender que faz dele um bom samaritano cheira-me a esturro. Só a menina Filomena é que vai numa conversa dessas. Pobre menina, sempre tão boazinha e compreensiva... . Cá para mim o miúdo é filho de uma das antigas amantes do Senhor Doutor. Nem me admirava muito que fosse filho de um descuido... . Esse doutorzeco nunca me enganou com aqueles seus ares de importante... . Credo! Mas o que é que estou para aqui a pensar? O que me interessa neste momento é encontrar o tal puto. Quero lá saber das intriguices desta gente. O resto são tretas, eles que são ricos e de famílias que se entendam.

Enquanto ia entretendo o espírito com estas cogitações, o motorista Jacinto ia avançando com o corpo, em direcção à porta de entrada do edifício da escola. Pelo caminho foi gozado pela criançada devido à sua farda aprumada: com certeza inédita naquela zona popular e simples da cidade. Encontrou um Contínuo, sentado à sua minúscula secretária no átrio de entrada, e perguntou-lhe se os alunos já tinham saído todos. O homem poisou o jornal desportivo que estava a ler sobre o tampo da mesa e, depois de o ter observado por cima dos óculos, perguntou-lhe pelo nome e idade do rapaz de quem estava à procura. O motorista abriu a boca para responder, mas só nessa altura é que se apercebeu de que nem sequer sabia qual era o nome do miúdo, só a idade – 10 anos. Corou até à raiz dos cabelos ralos, como sempre lhe acontecia quando era apanhado em falta. E maldisse a sua vida:

Merda! Não me lembro do nome do rapaz. Estou tramado. Mas que falha imperdoável. Não é que se me varreu completamente...? Será que o Doutor mo chegou a dizer?

Fez uma breve pausa nos seus pensamentos enquanto se esforçava por recordar timtim por timtim a rápida conversa matinal que tivera com o Senhor Doutor – homem sempre ocupadíssimo e apressadíssimo.

Agora me lembro: ele não me disse o nome da criança, só a idade e o facto de ele ser um bocado rebelde. O tipo também anda sempre com a pressa toda, como se estivesse atrasado. Vá-se lá saber para ir onde: não tem nada para fazer. Esta gente bem anda sempre apressada, está na moda, depois esquecem-se de tudo o que é importante. É claro que a culpa de tudo o que corre mal é sempre do mexilhão.

Lá estou eu outra vez com pensamentos que não me vão levar a lado nenhum. Afinal, onde é que andará o desgraçado do puto
?

Vendo o pretensioso motorista com o ar ausente de quem se perde dentro da própria cabeça, o Contínuo desinteressou-se dele, encolheu os ombros, e preparava-se para retomar a sua posição anterior: refastelado a ler o jornal, quando uma cena que decorria do lado de fora do portão da escola o obrigou a parar e, até, a limpar os óculos com um lenço de papel, tal a incredulidade do “filme”. No que respeita o Jacinto, lá continuava preso nas suas conjecturas e dúvidas existenciais, de tal forma que nem reparou na alteração da expressão do homem.

Para além do contínuo – que hesitava entre o ignorar, o zangar-se ou o rir às gargalhadas -, todos os alunos que brincavam no recreio e as pessoas que passavam na rua, pararam e começaram a rir, ou pelo menos a sorrir. Só nessa altura é que o motorista caiu em si e percebeu que algo de invulgar estava a acontecer nas suas costas. Virou-se, curioso e apreensivo, temendo pela “saúde” do carro da menina Filó e encaminhou-se, lesto, para a rua. Quando ia a descer o primeiro degrau da pequena escada que dividia a entrada do edifício da escola e o pátio do recreio, foi surpreendido pelas gargalhadas generalizadas e pelo espectáculo que decorria uns 50 metros à frente dos seus olhos. A surpresa foi-lhe fatal e, antes que pudesse abrir a boca de espanto ou emitir um ai, falhou o segundo degrau e estatelou-se ao comprido no chão – óculos para um lado, chapéu para outro. Escusado será relatar a risota generalizada. Incomodado pela falha ridícula, levantou-se como se tivesse molas nas pernas. Sacudiu o pó das calças vincadas, outrora impecáveis. Demorou alguns segundos na procura dos óculos e, logo depois, na procura do chapéu.

Quando, finalmente, conseguiu olhar para a cena que tinha à frente dos olhos deparou-se-lhe o seguinte espectáculo: em cima do tejadilho do carro da menina Filomena, estava um miúdo, sentado de pernas cruzadas – à chinês -, calmamente, como quem espera que algo de diferente aconteça. Com ambas as mãos, erguia um cartaz por cima da cabeça, onde se podia ler duas “palavras”– “Estou Aqi!”. O motorista, estupefacto (não tanto pelo erro ortográfico), ficou sem saber que atitude tomar.

Virgem Santíssima! Não me digam que aquele é o miúdo que vim buscar para lanchar com o Senhor Doutor. Que vergonha, e logo na Ferrari, onde a menina Filomena é tão conhecida e querida. Se ela sabe disto vai sofrer horrores. É bem capaz de ficar doente mais uma vez.

No que se refere ao Pilas, era o miúdo mais realizado do planeta. O mote central do seu dia a dia era ser o centro das atenções, sempre que pudesse e fosse da maneira que fosse. E naquele preciso momento estava a consegui-lo às mil maravilhas: toda a gente parava na rua a olhar para ele, num misto de espanto e censura. Sentia-se o maior da rua dele.

Entretanto, o desgraçado do Jacinto recuperou o sangue-frio que lhe era característico e dirigiu-se para o carro. Na verdade, e pensando com calma, até se sentiu aliviado quando viu o Pilas em cima do carro.

Pelo menos, agora já sei onde está o rapaz. O passo seguinte é convencê-lo a descer do tejadilho do carro e a instalar-se no assento traseiro, de forma a poder transportá-lo, rapidamente, até junto do Senhor Doutor.

Se o homem pensava que ia ter alguma dificuldade, depressa se descontraiu. Logo que se aproximou, o Pilas, com a graciosidade que os seus 10 anos lhe permitiam, saltou do tejadilho do automóvel e esperou que o motorista chegasse e lhe abrisse a porta (como vira fazer num filme da televisão). Após o convite do motorista, enriquecido com uma ligeira vénia, o Pilas entrou para o carro. Acomodou-se no assento de trás, parecendo um pouco desprotegido, ali sozinho e mínimo, no centro de um banco tão grande.

Ao longo de todo o percurso entre a escola (numa ponta da cidade) e a pastelaria (bem no coração da cidade), não houve entre os dois – motorista e criança - qualquer troca de palavras. Cada um se refugiou nos seus próprios pensamentos , sensações e julgamentos. De vez em quando observavam-se, mutuamente, através do espelho retrovisor. O motorista tentando manter a discrição.

Não há dúvida nenhuma de que o miúdo tem parecenças evidentes com o Senhor Doutor: o mesmo cabelo preto, muito ondulado, e feições semelhantes: traços bem desenhados, macãs do rosto suaves. E o tom de pele, também moreno. Agora, aqueles olhos grandes e azuis é que não estou a conseguir identificar... , devem vir do lado da mãe. Sempre gostava de saber quem é ela. Ora bem, o miúdo tem 10 anos, embora pareça mais velho, visto ser todo espigadote; o senhor doutor está casado com a menina Filomena há cerca de 7 anos, mas antes de casarem já namoravam – iam namorando, quando ele se lembrava dela ou não tinha mais ninguém - havia um ou dois anos... . A verdade é que este doutorzeco nunca me inspirou muita confiança: sempre o achei um interesseiro. Se o puto vier a sair a ele, vai ser cá uma bisca... . Aliás, já se viu que não é boa rês: onde é que já se viu sentar-se em cima de um carro à espera de alguém?

Bom, o melhor mesmo é concentrar-me no trânsito e apressar-me; quanto menos souber desta história, melhor. Como costumo dizer: eles que são ricos e de boas famílias que se entendam.

Por seu turno, o Pilas estava excitadíssimo com o “filme” que estava a viver: sentado num carro de luxo, a ser conduzido por um motorista todo enfarpelado, na perfeição. Olhava pela janela, na esperança de que alguém conhecido o visse passar naquele carro e o reconhecesse, ficando a morrer de inveja. Mudava de posição vezes sem conta: ora estava sentado, ora de joelhos para ver melhor, ora deitado de pernas para o ar.... Enfim, ia experimentando todas as posições possíveis e imaginárias. Mal dava pelo motorista que lhe parecia um careca trombudo e maldisposto. Ainda arriscou cruzar o olhar com o do homem uma ou duas vezes, através do espelho, mas a expressão que o recebeu foi tal que desistiu: nem foi capaz de vislumbrar o que raio estaria o homem a pensar.

O que ele pensa não deve interessar nem ao menino Jesus. Parece que engoliu um candeeiro de pé alto. Tem cá uma figura mais esquisita, como se nem fosse humano: se calhar é meio homem, meio extraterrestre. Que se lixe! O que eu gostava mesmo de saber é quem é esse gajo com quem vou ter de ir lanchar. Segundo diz a minha mãe é um primo afastado. Também, quero lá saber quem é o homem, o que me interessa, neste momento, é comer. Estou cá com uma larica…. Nunca mais chegamos. Se calhar o lanche é naquele lugar onde fui com a minha mãe comer queijadas. Chiça! Espero que não, era longe como um raio. Ainda morro de fome.

Na ânsia de se livrar o mais depressa possível daquela responsabilidade, Jacinto conduzia um pouco mais rápido do que seria suposto. Só pensava em entregar o miúdo ao Senhor Doutor e pôr-se a andar: às sete horas tinha de ir buscar a menina Filomena à sua ginástica semanal. Isso sim, era o seu trabalho preferido.

A menina Filó é um anjo!

Enquanto divagava no seu íntimo, o motorista ia olhando de soslaio, através do espelho retrovisor. O miúdo que estava, aparentemente, descontraido, deitado de barriga para baixo:

O que raio estará o puto a pensar, com aquela cara de malandro? Cá para mim sente-se um rei, a ser transportado no seu coche real. Agora estou a reparar, a roupa que ele tem vestida não lembra o Diabo, parece um homem miniatura: com colete, gravata e tudo. Credo!

Ah, até que enfim, estamos a chegar. Graças a Deus, vou poder despachar o miúdo.

Nesse momento, também o Pilas se apercebeu de que estavam a chegar, como se acabasse de ler os pensamentos do motorista:

O tipo está a andar mais devagar e está com cara de quem está a chegar. Viva, finalmente vou comer e fazer uma mija. Urgentemente. Desta vez, nem vou esperar que este troncho me venha abrir a porta, senão, da forma como ele anda, ainda faço aqui mesmo.

Logo que o carro abrandou à porta da Pastelaria onde era suposto pai e filho lancharem, o Pilas abriu a porta e saltou para a rua, antes que o Jacinto tivesse sequer tempo de pensar no que tinha de fazer a seguir. Aliás, o desgraçado do homem hesitou uns segundos, sem saber o que fazer: se sair do carro atrás do miúdo e obrigá-lo a entrar novamente até acabar de estacionar, se estacionar primeiro o carro e depois ir atrás do puto.

Uma buzinadela impaciente atrás dele arrumou, rapidamente, as suas hesitações: teve mesmo de esquecer o miúdo por momentos, de forma a conseguir estacionar o carro. Foi uma manobra apressada que redundou num encosto, se bem que suave, ao carro de trás e que lhe valeu alguns comentários irónicos por parte do condutor impaciente que lhe buzinara pouco antes. Mas o Jacinto nem o ouviu, tal era a sua angústia em despachar-se a sair do carro e descobrir onde o rapaz se enfiara.

Raios me partam mais a esta profissão de merda. Se não fosse pela menina Filó já tinha voltado para a terra e para o meu taxizito provinciano. Se lá tivesse ficado, a esta hora estava sentadinho na taberna do Alfredo a beber um copito e a conversar. Maldita a hora em que decidi vir para a cidade tentar a sorte.

Como é que agora vou dar com o estupor do fedelho? A esta hora já deve ir por essa rua acima, se calhar até já está no Chiado. Bem, só há uma coisa a fazer: ir à procura dele. Dê por onde der tenho de o encontrar o mais rápido que for humanamente possível.


Coitado do Jacinto: não podia estar mais longe da verdade. A realidade era que naquele preciso momento, já o Pilas tinha acabado de entrar, descontraido, na Ferrari, todo orgulhoso da sua fatiota invulgar.

Embora não passasse de uma criança de 10 anos, dois dos empregados de mesa deram por ele e trocaram olhares interrogativos e desconfiados. À primeira vista, e só pela forma de se vestir, o Pilas confundia-se com um homenzinho miniatura, já que era bastante alto para a sua idade. Mas ao ver-se-lhe a cara de gaiato, logo as dúvidas desapareciam. Assim, só quando chegou ao pé de um dos empregados para lhe perguntar onde podia fazer chichi é que o homem confirmou que não passava de uma criança. Facto ainda mais inusitado, visto aparentar estar ali por auto-recriação, e sozinho.

O Pilas estava êxtase, apesar da sua vontade aguda de chegar à casa-de-banho. Tudo brilhava à sua volta – desde os candeeiros de parede e de tecto, aos talheres geometricamente dispostos em cima das mesinhas. Ele ia olhando para todos os lados, apreciando os espelhos gigantes que forravam as paredes e conferiam àquela sala um ambiente estranho, sem fim. Ia tropeçando nalgumas mesas e nalguns pés que se estendiam, mais descontraidos, para além das mesas. Algumas vezes lembrava-se de pedir desculpa, outras nem por isso. Por fim, lá chegou à casa-de-banho, deixando para trás olhares de indignação e outros de curiosidade emproada. Já à porta da salvação fisiológica, demorou algum tempo até compreender qual era a dos homens. Os símbolos pendurados nas portas não eram especialmente explícitos:

Que raio de bonecos mais amaricados: os dois parecem meninas.

Só quando entrou é que descansou ao ver um homem de costas para ele e de frente para um dos urinóis. O Pilas, considerando aquela experiência engraçadíssima, preparou-se para se aliviar. Colocou-se, estrategicamente, ao lado do homem. Forçou-se por conter a curiosidade. Abriu o fecho das calças – depois de alguma luta – e tentou fixar a atenção nos seus próprios movimentos, mas, no final, a vontade de olhar para o lado foi mais forte do que ele. Olhou, primeiro de raspão – como quem não quer a coisa -, e depois com verdadeiro interesse. Ficou estarrecido, era como se estivesse a olhar para a sua própria pila, mas em tamanho XXL. Até a cor era idêntica. O mais embaraçoso foi quando reparou que, também, o homem olhava para ele com o mesmo ar espantado, e com um interesse mal disfarçado.

Olha para isto. Não querem lá ver que este é que é o miúdo da Maria Adelaide? Não há dúvida que ele tem algumas semelhanças em relação a mim. Felizmente não é através das pilinhas que se fazem os testes para determinar o grau de parentesco entre pai e filho.

Enquanto pensava, o Camilo terminou as suas operações mictórias e, depois de lavar as mãos, ficou por ali a olhar para o espelho. Hesitante: sem saber como se dirigir ao miúdo (que até devia ser seu filho, a acreditar nos seus próprios olhos avaliadores).

O próprio Pilas o salvou desse incómodo, interrogando-o ao passar por ele:

- Olá! Por acaso conheces um tipo chamado Camilo? É que ele deve estar à minha espera ali fora, no meio de toda aquela gente esquisita.

Devido ao inesperado da situação, o Camilo ficou a olhar para ele, sem saber bem como se lhe dirigir. Só lhe saiu, para si próprio, um pensamento.

A lata do puto.

Empinou o nariz e endireitou as costas, o melhor que conseguiu. Olhou para o Pilas, bem de alto e, por fim, apresentou-se como sendo o homem de quem ele estava à procura:

- Sou eu o Doutor Camilo que te convidou para lanchar. Estás bom?

E, sem esperar pela resposta, agarrou no ombro do rapaz e empurrou-o à sua frente. Assim, voltaram juntos para a sala e sentaram-se à mesa luxuosa do lanche.

Instalaram-se os dois frente a frente. O Camilo teve o cuidado de sentar o Pilas de costas para a sala, na esperança de conseguir que a presença da criança passasse despercebida. Só não se lembrou do pormenor dos espelhos que cobriam as paredes quase até ao chão.

Bom, pelo menos assim ninguém vai reparar nos modos do miúdo que não devem ser lá muito famosos. Acho que foi boa ideia mandar vir um batido com palhinha, não se deve pingar. O que um homem faz para conseguir cativar uma mulher.

Ora bolas, só me faltava esta, está ali a Tixa: a maior linguaruda da cidade. Estou tramado. Espero que não me veja aqui com uma criança desconhecida.

Finalmente, aqui vem o batido e as torradas! A ver se consigo despachar isto o mais depressa possível.

Quando o Pilas se sentou de costas para as outras pessoas ainda pensou em protestar, mas ao reparar na mais-valia à sua frente – o espelho – rapidamente desistiu e pôs-se a observar toda a gente à descarada.

Este gajo é mesmo parvo: quis lanchar comigo e agora não diz nada, só olha para todo o lado, como se estivesse à espera de alguém. Será que vem mais alguém lanchar connosco?

Também, se vem mais alguém ou não, é-me indiferente, o que me interessa neste momento é que os morfes vêm aí. Só espero que sejam melhores do que os da Escola… . Aqui está, ora vejamos: um batido de… banana e uma torrada cheia de manteiga. Um bocado miserável, mas que se lixe. Quero é comer.


No mesmo instante, o Camilo estava a fazer umas acenadelas sorridentes a uns – sobretudo mulheres – e a fingir que não via outros. Recomeçara a ficar tão cheio de si próprio que se descontraira e quase se esquecera que o Pilas comia animadamente à sua frente:.

Que alívio. Enquanto estiver entretido a comer não se lembra de fazer nenhum disparate. Agora por disparate: onde é que se terá metido o palerma do Jacinto, espero que não tenha batido com o carro da Filó.

Raios o partam, o miúdo come com a boca toda. Ainda bem que ficou de costas para as pessoas. Só não consigo compreender porque é que continuamos a ser o centro das atenções daqueles ali.

O Camilo tinha-se esquecido da existência dos espelhos mesmo atrás de si. O Pilas estava em alta: nem cabia nele de tão contente. Ia fazendo as suas fosquices inofensivas, através dos espelhos:

- Afinal, quem és tu?

A pergunta do Pilas saiu inesperada e tão fora do contexto superficial em que o Camilo estava habituado a navegar que, a princípio, nem teve bem a certeza de ter realmente existido. Apesar disso, o instinto da curiosidade obrigou-o a olhar para o miúdo sentado à sua frente. Mas este estava aparentemente concentrado – na medida do que é possível para uma criança de 10 anos – na palhinha às riscas azuis, por onde sorvia ruidosamente o batido de banana, ao mesmo tempo que mastigava um pedaço de torrada que lhe deixava um fiozinho de manteiga a escorrer pelo queixo abaixo. Ora bebia o batido, enquanto guardava o bocado de torrada na boca, no interior de uma das bochechas, ora dava dentadas, demasiado grandes, vendo-se obrigado a empurrar com os dedos o bocado que não cabia e ficava prestes a cair. Era uma cena muito deselegante, e o Camilo congratulava-se por ter tido a esperteza de colocar o rapaz de frente para a parede. Evitou, a custo, um trejeito de desagrado enojado e tentou descontrair-se um pouco enquanto pensava com os seus botões:

Pareceu-me ouvir o puto falar... . Talvez não. Devo ser eu que estou a ouvir vozes…

Olhou mais uma vez para o relógio e continuou absorvido na sua própria pessoa.

Já são quase seis e meia. Ora, pelas minhas contas, se o Jacinto não apareceu, a esta hora deve estar a levar a Filó para o “Health Club”. Assim, pelas minhas contas, lá pelas sete e um quarto, mais coisa, menos coisa, deve estar a rebentar por aqui para levar o puto de volta ao seu mundozinho desagradável.

Já agora que penso no miúdo: continuo sem saber como é que ele se chama. Agora também, é chato perguntar-lhe o nome, ainda se põe para aí a desbobinar à parva.


Os pensamentos desinteressantes do Camilo foram interrompidos de forma abrupta:

- Quem és tu?

Desta vez teve a certeza que a voz tinha saído da boca do rapaz, dado que ele falara de forma bem clara, até martelada. Pareceu-lhe que o Pilas falara tão alto que sentiu os batimentos do coração aumentarem de ritmo e uma onda de calor trepar-lhe até à raiz dos cabelos. Só que quando olhou para o rapaz, sobressaltado, reparou que ele estava a observar, fascinado, qualquer coisa que parecia estar a passar-se na parede mesmo por detrás dele.

Não chegou a ter oportunidade de responder, pois, no preciso momento em que abriu a boca para dizer qualquer coisa, fosse o que fosse, engasgou-se com a própria saliva e desatou a tossir, assustadoramente. Babou-se, chorou, arrotou, etc... . Tudo sons muito pouco indicados e confrangedores para um ex-colunável, casado com uma, ainda, colunável. Obedecendo aos rígidos mandamentos da etiqueta, todos fingiram não estar a dar pela cena que se passava naquela mesa, mas a maioria não resistia a deitar olhadelas, entre indignadas e curiosas, pelos rabinhos dos olhos. O mais chocante, para quem estivesse interessado em saber, nem era verem uma criança, vestida de forma ridícula, lá sentada – facto inédito por ali -, mas sobretudo a confusão e o barulho que emergiam daquela mesa, provocados pelos espasmos sonoros do ex-político.

No final, a preocupação do Camilo não foi responder à pergunta que lhe fora formulada, mas tentar ocultar, o melhor possível, toda a cena caricata que se ia desenrolando.

Ora bolas, tenho a certeza que o Tinoco ouviu a pergunta do miúdo, até se inclinou mais para o nosso lado. Estou frito. Se o pai da Filó vem a descobrir que tenho um filho de outra mulher estou bem lixado. “Bye, bye” vidinha descansada. Também, não sei o que me deu para entrar neste número. A Maria Adelaide é boa febra, mas não compensa perder tudo o que tenho neste momento. E agora o que raio é que vou dizer ao puto?

- O que é que a tua mãe disse sobre mim? – Perguntou o Camilo, na esperança de contornar a questão.

- Nada! – Respondeu o Pilas.

- Nada? – Surpreendeu-se o Camilo, sentindo-se um pouco vexado.

O estupor da tipa não disse nada ao miúdo. E agora, como é que vou descalçar esta bota?

Mas o Pilas não lhe deu grande margem de manobra:

- Só disse para não aceitar o teu dinheiro. Mas se me quiseres dar algum, podes dar que eu não lhe digo nada. Já estou habituado a que me deêm dinheiro lá na Agência. As velhas adoram ver-me mexer na pila e dão-me sempre umas moedas. Também não digo nada à minha mãe. No outro dia, foi um velho, meio coxo, que me pediu para lhe mostrar a minha gaita porque a neta lhe tinha falado de mim, impressionada. É fixe ser famoso. Agora, só não sei quem és tu. Pelo que eu vi na casa-de-banho, tens uma pila maior do que a minha. Felizmente já és velho, não me palmas as miúdas.…

O rapaz debitara todo este discurso de um só fôlego, sem sequer permitir que o Camilo o interrompesse. Aliás, mesmo que ele quisesse parar a verve do Pilas, não teria conseguido, porque o miúdo encontrava-se bem lançado. O pior de tudo foi que quase toda a gente na sala ouvira aquela tirada e o resultado estava à vista: silêncio sepulcral. Até se conseguiria ouvir o zumbido de uma melga, caso houvesse alguma pelas imediações:.

Pronto, agora é que está tudo estragado! Como é que me vou conseguir limpar de todo este relambório?

Entretanto, o Pilas como que esquecera o que dissera havia alguns segundos e regressara à sua atenta observação da parede – forrada por um espelho gigante – que estava nas costas do Camilo. Descontraido.

Escusado será observar que o Camilo estava em pânico: gotinhas de suor começaram a escorrer-lhe pela cara abaixo. Olhava para um lado e para o outro, com um sorriso amarelado, tentando transparecer indiferença e até alguma boa-disposição, mas quem o conhecesse veria que os seus olhos o traiam: estavam mínimos – dois pontos frios como aço – atrás dos elegantes e dispendiosos aros de metal azulado. Se estivessem só os dois na sala, ele teria sido bem capaz de espancar o rapaz. Aliás, na Assembleia da República ficara bem conhecido pelas suas atitudes frias e trejeitos agressivos para com os adversários que o tentavam ridicularizar. Nessas alturas efervescentes, quem olhasse para ele teria a sensação de que a sua cabeça estava inchada e atingia o dobro do tamanho. Não deixava de ser uma imagem preocupante, se bem que algo ridícula.

No silêncio da sala começou a nascer um burburinho, ao início indistinto, entrecortado por alguns tossicares que tentavam ser discretos na maledicência que ocultavam. Depois, o número de adeptos do comentário desdenhoso foi aumentando, até se tornar, aos ouvidos do Camilo, ensurdecedor. Abriu a boca para chicotear o miúdo com as piores frases que conhecia quando um grito feminino – esganiçado, como manda a tradição – voou pela sala. Todos olharam para a dona daquele som estridente e viram uma senhora – dita fina – levantar-se, de braço esticado, a apontar para a mesa do Camilo, e mais especificamente para o próprio Camilo. Este, desgraçado, estava à beira de uma crise cardíaca, tal a loucura de indiscrições a que, aparentemente, continuava sujeito.

Mau Maria! O que raio é que se está agora a passar? Será que tenho um macaco pendurado no nariz, ou será que o estupor do miúdo tem um piolho aos pulos no alto da cabeça? Calma Camilo, controla-te…

Aos poucos, as outras pessoas foram, também, olhando para o local para onde o dedo, prolongado por uma unha bicuda bem vermelha, apontava. Uns exclamavam:

– Que nojo!

Outros pareciam não compreender o que se estava a passar e erguiam-se das cadeiras para tentar ver melhor, fosse o que fosse. No meio daquela confusão gerada, o Camilo olhou para um dos empregados que, após fazer um trejeito facial onde se misturava o constrangimento e a vergonha, pegou num pano – branco imaculado – e encaminhou-se na sua direcção.

O ex-político nem queria acreditar no que presenciava. Olhou, feroz, para o miúdo, considerando-o, no seu íntimo, culpado por tudo o que se estava a passar, e só nesse momento é que percebeu que o que quer que tivesse enojado a assistência que o rodeava, se encontrava, não na sua cara, não no alto do cocoruto do Pilas, mas por detrás da sua própria cabeça:

Então era por isso que o rapaz observava tão atentamente a parede aqui atrás. Mas, o que Diabo é que …?

Antes que tivesse tido tempo de completar a frase do seu pensamento e o movimento simultâneo de olhar por cima do ombro, o Pilas saltou do seu lugar para cima da terceira cadeira da mesa – a que tinha estado desocupada – e, com o bocado da torrada que tinha estado a mordiscar, esborrachou uma enorme barata vermelha que tentava – a custo – trepar pela parede. Escusado será dizer que, após aquele acto heróico, todo o verniz que envolvia a camada adiposa da maioria dos clientes daquela sala de chá, estalou e irromperam as mais diversas cenas. Desde algumas senhoras mais sensíveis que desmaiaram, ou ameaçaram fazê-lo; a outras que aproveitaram para se irem embora, muito indignadas – sem pagar, é claro. Ouviram-se, ainda, alguns palavrões pouco apropriados e, por fim, como pano de fundo, o riso histérico do Pilas que se sentia nas suas mil e uma noites.

Afinal, não é só a minha pila que os impressiona. Boa!

Em relação ao Camilo, ficou sentado no seu lugar, como que pregado ao assento, com a sua linda cabeçinha emoldurada pelos restos mortais da barata e da torrada que se espalhara pela parede e pelo espelho:

Eu sabia que isto ia dar asneira. Quem é que me mandou ter ideias espertas?

Olhou para o Pilas que voltara a atacar o seu batido de banana, com a maior das descontrações. Tinha um ar exultante. Sentia-se o maior. E no meio do caos que se instalara à volta dos dois, ouviu-se uma vozinha perguntar mais uma vez:

Quem és tu?

Thursday, May 10, 2007

DERIVAÇÕES XII

a partir do texto Escadas de Incêncio de Henrique Dória.

no quarto,
abriu-se uma porta,
cortava-se a garganta.
ao longo das paredes
pedras
arados
nódoas.
no calor das casas, por vezes,
abre-se um buraco,
os objectos tornam-se estranhos,
mesmo as portas, mesmo as fechaduras.
subia pela parede uma palavra que ficaria para sempre
................................................................. dentro do quarto,
talvez nem bem uma palavra, mas o rumor das coisas,
uma parte, e outra parte e outra parte ainda.
ouve – as palavras, por vezes, crescem como estradas
.............................................................. de gavetas vazias,
enquanto a cidade em volta cai sobre as janelas.
uma chave para tudo
o olhar pousado sobre as coisas
como uma flecha, melhor, as coisas mesmas sem o olhar.
portas mesmo dentro das nódoas
dentro da cortina
portas mesmo dentro dos teus passos
que atravessam agora o vidro da janela do quarto
com traquilidade de se julgar que a alegria voltará
................................................................... mais tarde;
de pedra em pedra dedos que procuram,
e tantos quartos vazios
tantas mesas pesadas sob os vasos e o tecto do quarto.

viessem as cadeiras vazias do quarto pousar sobre o parapeito
e arrulhar para a ruga do tecto.

um telhado a fazer equilibrismo,
passinhos tímidos de flamingo sobre a ruga do tecto.
e sob o qual se junta, entre uma pedra e outra pedra
um lugar onde plantar as coisas.