Monday, March 31, 2008

People are strange, when you're a stranger


Depois de enfiar a cabeça em água fria, as ideias começaram a deixar de estar tão anquilosadas e acabei no site dos Doors.

Perdoa-me Jim Morrison esta minha fraqueza momentânea, "people are really strange".

People Are Strange

People are strange, when you're a stranger

Faces look ugly when you're alone

Women seem wicked, when you're unwanted

Streets are uneven, when you're down

When you're strange - faces come out of the rain (rain, rain)

When you're strange - no one remembers your name

When you're strange, when you're strange, when you're strange

Bee Gees forever

São 22h05 e estou a ouvir o "How deep is your love", dos Bee Gees, alguma coisa está muito bem ou muito mal, credo... Seja como for, sabe sempre bem, com uma lágrimazinha ao canto do olho ou com um grande sorriso na cara.

Freud explica...

Sigmund Freud: “O escritor criativo faz a mesma coisa que uma criança quando brinca e reorganiza o mundo ao seu gosto usando a imaginação e a fantasia como matéria-prima.”

Thursday, March 27, 2008

Pequenez de espírito confrangedora


Aqui há umas semanas, e após namorar uns sapatos na montra de uma parafarmácia perto do local onde moro, decidi finalmente comprar os referidos sapatos, até porque estavam com 10% por cento de desconto (e mesmo assim eram caros). Quando calcei o sapato (que estava na montra) no pé direito fiquei felicíssima, servia-me que nem uma luva, ou o mais correcto será dizer, que nem uma meia. Pedi então o irmão gémeo esquerdino. Davam um andar perfeito, e isso era demasiado importante para esquivar-me a comprá-los. Felizmente, a minha satisfação levou-me a olhar para os dois pés, do alto do meu metro e setenta e cinco ainda um pouco instável devido ao acidente. Os sapatos eram ambos castanhos, é verdade, mas com tons completamente diferentes. Explico: o que tinha estado na montra, ao Sol, perdera a cor original, de tal forma que, eu (não sendo nada esquisita e consideravelmente distraída) reparei, assim como a senhora da parafarmáfia reparou e bem. Bom, vou resumir a coisa que só hoje teve um desfecho, previsto é certo, mas tão pouco inteligente que até dá dó. Nesse dia, a senhora falou com o patrão pelo telefone expondo-lhe a situação e para lhe perguntar se não haveria um outro par numa outra loja, onde ele estaria. Percebi que o homem do outro lado da linha ridicularizou o assunto, aposto que disse: essa é uma das esquisitas, ela que não olhe para os pés. Propus-me consultar um sapateiro para saber que solução dar àquela palidez parcial, e quanto isso me iria custar. Assim o fiz, entre 10 e 20 euros foi o que me responderam. Voltei, assim, à parafarmácia para dar essa informação e dizer que estava disposta a comprar os sapatos com um desconto, não de 10%, mas do valor aproximado do "bronzeamento". Tendo já tido a oportunidade de falar com o dito dono da parafarmácia, apostei íntimamente que a resposta dele seria não, certamente iria perferir ficar com os sapatos estragados (quem sabe conseguiria enganar a próxima...).


Adivinhe-se a resposta que hoje a envergonhada empregada me deu? ehehe... acho que nem vale o trabalho. Uma tristeza não é? Para além de que nunca mais comprarei nada naquela parafarmácia, a tacanhez incomoda-me e a esperteza saloia, tão característica deste meu povo, ainda mais.

O que fazer quando vemos os nossos filhos cada vez mais longe de nós?

O que podemos fazer quando começamos a perder os nossos filhos? Quando os vemos afastarem-se de nós e não conseguimos fazer nada para que nos queiram como somos, depois de termos perdido tanto por causa deles, por vezes deixado para trás a nossa própria vida? Dir-me-ão que é um erro prescindir seja do que for por eles... certo, teoricamente está correcto, mas se os tivemos por livre e espontânea vontade...

Durante os últimos 5 anos, depois da minha separação, dei piruetas, inventei-me e reinventei-me para fazer a minha filha feliz, para a fazer sentir-se bem comigo. Vivi a vida dela com ela , mas não reparei que ela não estava a viver a minha vida comigo. Aliás, nunca deveria ter ficado a viver a vida dela e a minha comigo, deveria desde logo ter ido viver com o pai, que, aliás sempre foi o seu desejo.

Agora está a fazer 12 anos e quem a vai enviar para casa do pai sou eu, depois de ter assumido em voz alta que foi sempre o que ela quis. É difícil admitirmos, antes do nosso tempo, em voz alta o que nos magoa e faz profundamente infelizes.

Estou cansada, ou com mais sinceridade, estou farta. Pensava que o egoísmo e egocentrismo era apenas algo que se manifestava no exterior, mas tenho-o dentro de casa, criado por mim prórpia, que nunca aprendi a sê-lo, para mal dos meus pecados.

Friday, March 7, 2008

A Estrelinha Marota - Um conto para crianças

Ao sabor dos solavancos do velho carocha vermelho, a mãe da Beatriz levava-a à escola todos os dias. Pelo caminho, cantavam, conversavam e riam, ou desconversavam e ficavam caladas, perdidas em sonhos e pensamentos.
Naquela manhã de Inverno, cinzentona e escura, o Sol parecia estar com um enorme ataque de preguiça: não havia meio de acordar e de aparecer para lhes dar os bons-dias. Envergonhada com o medo que ainda tinha do céu escuro, Beatriz encolheu-se na cadeira de criança, enrolou-se melhor na manta de xadrez e acabou por adormecer, agarrada ao ursinho de peluche que a mãe lhe trouxera de uma viagem de trabalho a Amesterdão. A mãe olhou para a filha através do espelho retrovisor e todo o seu peito se encheu de um calor que lhe escaldava o coração ao pensar:
Tenho uma filha tão bonita. Os seus lábios são tão rosados e a sua pele tão macia que mais parece a princesa de uma história de encantar. Não há nada melhor no mundo; só me apetece apertá-la contra mim e enchê-la de beijos.
Beatriz suspirou e sorriu, como se no seu sonho tivesse lido os pensamentos da mãe. Mas a menina já pairava num mundo completamente diferente. Sonhava que era uma estrelinha brilhante, daquelas que as pessoas vêem cintilar no céu escuro e esperam ver cruzar a noite para pedirem um desejo. Só que ela era uma estrelinha diferente das outras; era muito marota, pois só queria viver de dia, não gostava da noite. Na verdade, tinha medo do escuro, e uma estrela com medo do escuro era coisa nunca vista.
A Lua, que era a responsável por todas as estrelas durante a noite, começava a ficar aborrecida com aquela atitude da Estrelinha. Tomar conta das noites era um trabalho que lhe exigia muito cuidado; devia orientar todas as estrelas e distribuir-lhes tarefas cintilantes, o problema era que nunca podia contar com a Estrelinha. Ela raramente aparecia; durante a noite escondia-se atrás das nuvens, cheia de medo, e de dia quem mandava no céu era o Sol e esse protegia-a sempre com os seus raios aconchegantes.
A certa altura até as outras estrelas começaram a ter dificuldade em esconder a inveja que sentiam da liberdade da Estrelinha que fazia o que bem entendia.
As outras estrelas queixavam-se todas as noites, e a Lua, já sem paciência, gritava:

- Calem-se! Estou farta de vos ouvir.

As queixas eram sempre as mesmas: que a Estrelinha nunca as ajudava; que estavam cansadas de cintilar todas as noites, sempre bem aperaltadas, enquanto que a “senhora dona Estrelinha espertalhona andava à boa vida”; que o Sol e as Nuvens a encobriam, etc., etc.
A pobre da Lua tanto se fartou de ouvir e engolir os protestos que decidiu que tinha de tomar uma atitude, urgentemente, antes de explodir em mil bocadinhos de mau feitio. Até já começava a sentir a silhueta desgastada com as preocupações.
Depois de muito reflectir achou que o mais inteligente a fazer era, antes de mais nada, ir falar com o Sol e pedir-lhe ajuda para aquela tarefa tão chata. Queria que ele lhe sugerisse um castigo, suave é claro, para aplicar à marota da Estrelinha. Mas o Sol que achava imensa graça à sua amiguinha cintilante mandou-a passear e ainda a avisou que se algo de mal acontecesse à Estrelinha, tinha de se haver com ele. Ainda mais chateada com a vida, a Lua foi, logo de seguida, tentar a sorte com as Nuvens, mas a resposta, unânime, foi a mesma:

- Nem pensar! Desaparece daqui, Lua queixinhas! Se tratas mal a Estrelinha nunca mais te deixamos mostrares as tuas habilidades às pessoas na Terra.

Se fosse um cão podia dizer-se que a Lua meteu o rabo entre as pernas, mas como era uma bola sem pernas, limitou-se a deslizar para outros céus, o mais depressa possível, pois já uma vez as Nuvens lhe tinham tapado as vistas para a Terra durante uma semana inteira. Ia morrendo de desespero.
Achou por bem desistir das conversas “cara-a-cara”, tal o receio que se lhe começou a entranhar nas suas belas crateras.
Se até as Nuvens ameaçam cortar-me as vistas, nem quero imaginar as reacções da Chuva, do Nevoeiro ou dos Flocos de Neve…, ainda me atiram com a Trovoada ou o Nevão e me dão cabo da silhueta, ou congelam as ideias. Isso está fora de questão, tenho de magicar outra solução.
Pensou e rodopiou durante noites a fio, até que por fim, depois de já estar com a cabeça em água por causa das lamúrias das estrelas, chegou a uma solução. Não me agrada muito, mas para grandes males, grandes remédios, como dizem as pessoas da Terra. Decidiu que o mais seguro para a sua saúde lunar era levar o assunto ao Conselho Estelar. Eles que decidam! Pensou a Lua, tentando afastar as hesitações que a empoeiravam, com um trejeito desajeitado. Agora restava-lhe pensar numa forma de enviar o pedido de ajuda para o Conselho, sem que os seus colegas do céu soubessem. A Lua era um pouco cobarde e, lá bem no centro da sua constituição, sentia algum receio; já tinha ouvido histórias assustadoras sobre as atitudes rudes e desagradáveis da Presidente do Conselho Estelar, a Estrela Polar, ou Estrela do Norte.
Lembrou-se de utilizar as potencialidades do Vento, mas tinha de inventar uma maneira de o usar sem ele perceber. Reflectiu, reflectiu e ao fim de uma noite cheia, a Lua teve uma ideia brilhante: Já sei! Vou dizer ao Vento que é o aniversário da Estrela Polar e que lhe quero enviar uma mensagem surpresa de parabéns. O palerma é tão ingénuo, sempre preocupado com a intensidade da sua corrida que nem vai desconfiar.
Alisou a superfície, ajeitou as crateras e foi falar com o Vento; escolheu uma noite de ventania porque sabia que nessas alturas ele estava ainda mais distraído. Conseguiu o que queria sem nenhuma dificuldade, o Vento nem se mostrou surpreendido com aquele pedido fora do vulgar; limitou-se a pegar na mensagem e desapareceu no horizonte com uma rajada fria que fez a Lua estremecer.
Mais depressa do que a própria Lua esperava, foi marcada uma reunião extraordinária do Conselho Estelar, já que, habitualmente, todas as estrelas do mundo só se reuniam uma vez por ano.
Nessa noite, até as pessoas da Terra perceberam que alguma coisa de estranho estava a acontecer nos céus, pois o mundo inteiro foi decorado com o que parecia ser uma chuva de estrelas, tão intensa e brilhante que até os países que deviam estar a dormir acordaram. Era como se alguém tivesse acendido todas as suas luzes de Natal.
A Lua estava preocupada e ansiosa; apesar da traquinice da Estrelinha, afeiçoara-se a ela e começava a pensar se teria sido boa ideia meter a Estrela Polar naquele assunto. Quando o Sol soube o que se passava, ficou tão zangado que apagou os seus raios quentinhos, fechou os olhos e pôs-se a dormir, só para não se lembrar da maldade da Lua. As Nuvens esfumaram-se nos céus e desapareceram, muito tristes, e até o Vento deixou de falar à Lua porque estava muito ofendido por ter sido usado para uma acção tão feia. A Lua ficou sozinha com as estrelas queixinhas que estavam muito satisfeitas da vida.
Quando o frio que acompanha a Estrela Polar para todo o lado começou a fazer-se sentir naquele bocado de céu, a Lua tremeu, pensou que se calhar cometera um grande disparate. No fundo, a Estrelinha era só uma estrela infantil e marota. Mas o que estava feito, feito estava e já não havia nada que a Lua soubesse fazer para evitar o que se ia passar:
Só se tivesse o dom de fazer o tempo parar, ou voltar atrás. A verdade é que a Estrelinha se portou mal, não cumpriu as suas obrigações, por isso tem de ser castigada. Mesmo assim, estou cheia de pena dela; sempre foi uma estrelinha simpática e meiguinha. Se calhar devia ter pensado melhor antes de escrever ao Conselho Estelar, agora estas estrelas todas estão para aqui só a dizer parvoíces. “Umas vaidosas pirosas”: como diria a Estrelinha.
A Lua bem tentava descansar a má consciência, mas não estava a ter grande sucesso.
A Estrelinha marota também pairava por ali, sem compreender bem o que se passava. Nunca vira tantas estrelas juntas e sentia-se muito assustada, no meio de tantas desconhecidas. Tremia sem parar e a luz que lhe iluminava o corpinho, sempre tão cintilante, estava esbatida, sem brilho. Pensava ansiosa:
Porque que será que nenhuma olha para mim, nem me dirige a palavra? Acho que estão zangadas comigo. Mas o que é que eu fiz de mal a estas estrelas todas? Brrrrr…, que noite tão fria, mas tão luminosa. Quem me dera que todas as noite fossem assim: cheias de luz. Dessa maneira nunca mais ia ter medo do escuro. Nem consigo ver as minhas amigas Nuvens com esta luminosidade toda, se calhar mandaram-nas embora do céu ou puseram-nas de castigo.
De repente, uma brisa gelada varreu o ar e fez estremecer todas as estrelas e a própria Lua. Ao longe surgiu uma luz diferente: mais branca e brilhante. Aqui e ali fugiam alguns sussurros das estrelas mais corajosas, mas mesmo assim, muito tímidos e receosos. A Estrelinha cada vez se sentia mais admirada com o que se passava à sua volta:
Que coisa! Agora, de repente, puseram-se todas a sussurrar. Que frio!
Acabou por se fazer um silêncio quase total, só se ouvia uma brisa sussurrada que ia aumentando de intensidade. E a responsável por aquele frio intenso mostrou, finalmente, a sua cara: era a Estrela Polar, isto é, “Exma. Senhora Dona Estrela Polar, ou Estrela do Norte” – séria e gelada como sempre. A Lua ia desmaiando:
Que expressão assustadora! Se é verdade o que dizem dela, agora é que isto vai aquecer, ou melhor, gelar.
A Estrelinha encolheu-se ainda mais, na esperança que aquela estrela tão carrancuda nem a visse. Tentou pedir ajuda às outras estrelas, mas todas se afastavam como se nem a vissem, aliás nem olhavam para ela. Sentia-se como se tivesse uma doença contagiosa.
A Lua foi a correr dar as boas-vindas à Estrela Polar. Mas ela nem abrandou para lhe dizer olá; seguiu o seu caminho, majestosa e indiferente. Parou já no meio das estrelas caladas e perguntou:
- Onde é que está essa Estrelinha que interrompeu o meu descanso diário?
Daquela vez o silêncio foi mais do que absoluto. Nunca as pessoas na Terra tinham tido uma noite tão serena e luminosa.
Todas as estrelas se afastaram, deixando a Estrelinha sozinha, a cintilar timidamente e cheia de medo.
- Aproxima-te para que te possa ver melhor – ordenou a Estrela Polar na sua voz de trovão.
A Estrelinha estremeceu, mas depois de uma brevíssima hesitação lá rodou um bocadinho sobre si própria e ficou mais perto da Estrela mandona.
- Até que és bonita! – Afirmou a Estrela Polar, mais baixinho para não a assustar e depois de uma pausa, durante a qual a observou com atenção, pediu-lhe:
– Conta-me lá porque é que as tuas companheiras estrelas estão zangadas contigo e mandaram a Lua convocar-me para que inventasse um castigo especial para ti?
A Estrelinha ficou muito admirada e, também, muito triste. Nunca nenhuma das estrelas que cintilavam ao pé dela lhe tinha dito nada e, como todos sabemos, é muito feio fazer queixinhas nas costas dos outros.
Estava tão magoada e infeliz que nem conseguia dizer uma palavra que fosse. E a Estrela Polar, ou Estrela do Norte, que apesar do seu vozeirão era uma estrela experiente e sensível, compreendeu tudo o que se estava a passar na “cabecinha” pálida da Estrelinha.
- Ouvi dizer que tens medo do escuro e de estar sozinha a cintilar durante a noite e que, por isso, te escondes por detrás das Nuvens. É verdade? – Perguntou a Estrela Polar.
A Estrelinha respondeu com um sim tão frágil que todas as estrelas e a própria Lua, tiveram de se esticar para tentar ouvir.
A Estrela Polar pensou durante um bom bocado e quando o burburinho das outras estrelas se preparava para aumentar de volume, falou novamente naquela noite:
- Bom, já perdi muito tempo com este assunto, está na hora de voltar ao meu trabalho, isto é, indicar o Norte às pessoas da Terra. Por isso, vou ter de me despachar. Ora bem, Estrelinha, compreendes que todos aqui no céu temos uma missão a cumprir? Embora nem sempre os humanos da Terra nos respeitem, prometemos-lhes que todos os dias teriam o Sol a iluminar-lhes os dia, as Estrelas a tornar-lhes as noites mais bonitas e a Lua a tentar que as noites sejam menos escuras. e isto para não falar na Chuva, no Vento, etc.…. E tu, como nasceste estrela, fazes parte das noites. Já viste que tristes as pessoas seriam se todas as estrelas fossem como tu e tivessem medo do escuro? Coitados dos meninos de todo o mundo que tivessem medo da noite.
A Estrelinha corou. Pela primeira vez compreendia o seu lugar no céu, mas mesmo assim continuava com medo e sem vontade nenhuma de ficar sozinha a cintilar nas noites mais escuras. É que, por vezes vezes, a manhosa da Lua também amuava e fazia gazeta, e nessas noites quase não se conseguia ver.
E a Estrela Polar disse de sua justiça:
- Desde que o Vento me entregou o recado da Lua sobre a tua desobediência que me pus a pensar no que poderias fazer de útil, já que, pelos vistos, não te sentes lá muito satisfeita a estrelar o céu durante a noite. E sabes? Tive uma ideia cintilante. Aproxima-te, aproxima-te, esta conversa é só entre nós, mais nenhuma estrela tem nada a ver com o assunto.
A Estrelinha obedeceu e aproximou-se o mais que era permitido uma estrela chegar-se a outra, sem causar nenhuma faísca. Entretanto, todos os habitantes celestes ardiam de curiosidade. A Lua estava cheiíssima, como se estivesse empanturrada, tal a excitação e impaciência; até o Sol, apercebendo-se que algo de fora do vulgar se estava a passar, esforçava-se por conseguir espreitar mais cedo do que era costume e conveniente. Mas só a nossa Estrelinha marota é que conseguiu ouvir a decisão da grandiosa Estrela do Norte.
Estavam todas a ficar muito impacientes, quanto mais não fosse por já estarem fartas de esperar. Algumas das estrelas ali presentes nunca tinham sido convocadas anteriormente, precisamente por ainda não terem nascido ou por serem demasiado novas para aquelas andanças.
O burburinho começava a aumentar de intensidade quando as duas estrelas se afastaram uma da outra. A imponente Estrela Polar, ou Estrela do Norte, limitou-se a desviar os olhos em jeito de despedida ou de enfado e a seguir o seu caminho, sem uma palavra. Parecia muito aborrecida, ou talvez estivesse cansada.
As atenções voltaram-se para a Estrelinha que parecia estar perdida num sonho maravilhoso; ainda não conseguia acreditar no que ouvira. Ficou tão aliviada e satisfeita que quase explodia de felicidade. Antes que todos à sua volta compreendessem o que estava para acontecer, a nossa amiguinha luminosa pôs-se a dançar e a girar pelos céus da noite.
E o que se passou de seguida foi tão rápido que as outras estrelas nem tiveram tempo de pensar fosse o que fosse, e mesmo antes que a Lua tivesse tido a oportunidade de se sentir aliviada por vê-la tão feliz com o seu próprio castigo, a Estrelinha alisou os seus raios cintilantes e lançou-se numa corrida veloz, rasgando a escuridão com a sua risada alegre, enquanto ia derramando pelo caminho mil brilhantes que iluminaram o Céu e a Terra. Uma fantástica explosão de luz e cor acompanhou-a na sua queda livre até à Terra. Foi só nesse preciso momento que todos compreenderam o que se estava a passar. A Estrelinha tinha sido escolhida para ser uma Estrela Cadente, a maior honra para qualquer estrela que se preze: a possibilidade de descer dos céus à Terra!
O sonho da Beatriz começou a esfumar-se. A menina mexeu-se ao de leve na cadeira. Sentira um quentinho bom na bochecha. Continuava a sorrir e o seu cabelo doirado reflectia a luz, ainda pálida, do Sol que finalmente conseguira romper a teimosia das nuvens aborrecidas e chuvosas. Para além dos telhados das casas que viviam à direita da estrada por onde o carocha vermelho circulava, começou a nascer um arco-íris que trespassava as gotas de chuva, cada vez mais fracas, que ainda pairavam no ar.
A mãe, que sabia bem como a Beatriz gostava de ver o arco-íris, fez-lhe uma festa no joelho e chamou-a de mansinho:
- Beatriz! Olha, o arco-íris.
A menina abriu os olhos, ergueu-se até onde o cinto de segurança permitia e estremunhada, mas com um grande sorriso, começou a falar sem parar:
- Onde? Mãe, sonhei que era uma estrelinha brilhante que vivia no céu e que tinha medo do escuro e por isso a Estrela do Norte, que também é a Estrela Polar, transformou-me numa estrelinha cadente e por isso vim viver para a Terra. Onde é que está o arco-íris, mãe? Olha tão bonito, ali ao fundo em cima dos telhados daquelas casinhas.
A mãe não conseguiu deixar de dar uma gargalhada:
- Bolas, filharoca, que grande sonho, acordaste com a força toda.
E a Beatriz, depois de olhar para a mãe num relance voltou a fixar as cores do arco-íris e continuou a falar:
- Oh mãe, amanhã podemos ver outra vez o arco-íris? Por favor mãe, vimos à mesma hora, eu sonho como hoje e depois acordas-me quando chegar o arco-íris. Como hoje. Por favor mãe, diz que sim!

Wednesday, March 5, 2008

High School Musical à portuguesa

No fim-de-semana passado fui ver o "High School Musical" com a minha filha. Um espectáculo musical confrangedor, de péssima qualidade. Os cantores (portugueses, vejam só) desafinavam ou gritavam e a encenação era de uma pobreza franciscana. É lamentável que o Tivoli seja o anfitrião deste género de espectáculos. Uma tristeza, e depois espantamo-nos da falta de noção de qualidade dos nossos filhos em relação à música.
Saímos no intervalo, depois de um sofrimento de cerca de uma hora.

Monday, March 3, 2008

Parabéns ao Pedro Norton.

O meu ex-director da SIC (já lá vão uns bons anos) foi nomeado vice-presidente do Grupo Impresa. Uma nomeação mais do que merecida, isto com base no que conheci do Pedro Norton quando era director do Controlo de Gestão da SIC. Foi o melhor, ou mesmo o único, director que tive ao longo da minha já também longa "carreira" profissional. Muitos parabéns Pedro, de uma admiradora (profissional) incondicional .
Aliás, quem está de parabéns é o Grupo Impresa pela substituição, ficam a ganhar em muito.