Thursday, May 10, 2007

DERIVAÇÕES XII

a partir do texto Escadas de Incêncio de Henrique Dória.

no quarto,
abriu-se uma porta,
cortava-se a garganta.
ao longo das paredes
pedras
arados
nódoas.
no calor das casas, por vezes,
abre-se um buraco,
os objectos tornam-se estranhos,
mesmo as portas, mesmo as fechaduras.
subia pela parede uma palavra que ficaria para sempre
................................................................. dentro do quarto,
talvez nem bem uma palavra, mas o rumor das coisas,
uma parte, e outra parte e outra parte ainda.
ouve – as palavras, por vezes, crescem como estradas
.............................................................. de gavetas vazias,
enquanto a cidade em volta cai sobre as janelas.
uma chave para tudo
o olhar pousado sobre as coisas
como uma flecha, melhor, as coisas mesmas sem o olhar.
portas mesmo dentro das nódoas
dentro da cortina
portas mesmo dentro dos teus passos
que atravessam agora o vidro da janela do quarto
com traquilidade de se julgar que a alegria voltará
................................................................... mais tarde;
de pedra em pedra dedos que procuram,
e tantos quartos vazios
tantas mesas pesadas sob os vasos e o tecto do quarto.

viessem as cadeiras vazias do quarto pousar sobre o parapeito
e arrulhar para a ruga do tecto.

um telhado a fazer equilibrismo,
passinhos tímidos de flamingo sobre a ruga do tecto.
e sob o qual se junta, entre uma pedra e outra pedra
um lugar onde plantar as coisas.

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