Tuesday, April 3, 2007

Derivações IX

a partir do texto As Casas de Dóris Graça Dias.

direi – nesta sala é onde costumo chorar e rir
........................... dos outros lugares do mundo,
vou para o corredor quando me apetece dançar
e às vezes trago da varanda recados de inesquecíveis dilúvios.
direi – aprendi a contar pelos degraus das casas.
mais tarde, nas horas de invenção de outros jogos
repetidas vezes afirmarei
- um dia hei-de ser mais velho que tu!,
inversão imaginária do tempo, impossível ultrapassagem;
é que por vezes, mãe e casa confundem-se,
prontas sempre a guardar-nos os segredos que nem a elas contámos,
ajudam-nos a crescer
e só nos pedem que as não esqueçamos,
é essa adquirida acessibilidade das horas inteiras,
corredores que se interrompem em salas;
são os primeiros pratos e os primeiros copos desirmanados
que não pertencem a conjunto nenhum.
pode ser uma maneira outra de gostarmos da vida,
de lhe observarmos as fraquezas sem temer a queda delas
.......................................................................... sobre nós.
das casas que habitámos soubemos guardar os segredos,
é que as casas, por vezes, não são lugares para os nossos barulhos,
por exemplo,
há casas que resultam da reunião de dois ensaios de vida,
casas nuas,
sem correspondência de carinhos,
sem mais que a nostalgia das esperas.
das casas aprendi verdades tão iniciais acerca da vida.
aprende-se a cumprir as casas, insuspeitáveis testemunhas,
quando temos a certeza de que cabem na nossa memória.

No comments: