Tuesday, March 20, 2007

Derivações IV

a partir do texto O Reino Circular de Mário Braga.

na forma directa da minha vontade
conservo absoluto o translato das memórias do cronista - centro geométrico da crónica.
os povos estrangeiros designavam este reino de circular,
para ali fora levado, num elefante branco,
sob um pálio de cetim, um céu desdobrável - um pano azul tecido
.......................................................................................... pelos arcanjos
que o tempo esburacara.
instalara-se na torre um óculo giratório de lentes poderosas
que permitia ver todos os recantos,
um enorme olho no pergaminho das crónicas
sob o toldo furado do céu que coava uma luz eterna,
até os insectos e os pólenes pareciam comungar da circularidade.
circular a consciência
circular a cidade equidistante do centro.
nos pauis nenúnfares e folhas de árvore apodreciam,
para ser o paraíso
só lhe faltava olhos que fitassem sem medo as coisas
por entre o surdo fragor das patas de muitos cavalos, mas,
ou porque a cidade fosse infinita ou andasse sempre às voltas,
nunca se alcançava o limite,
nem que nisso se consumisse uma vida.
do cronista lembro os gestos
por entre os juncos e o azul do céu.

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