Saturday, March 24, 2007

Derivações VII

a partir do texto Falatório do Ruzante de Volta da Guerra.

sai ofegante do fundo e avança até ao proscénio,
vem lazarento e sujo.
olha à sua volta enxugando o suor,
deita fora as solas das botas, uma de cada vez.
olha uma vez mais à sua volta e tira rapidamente da sacola
um naco de pão,
dá-lhe uma dentada e com a boca cheia
olha para a figura que vem surgindo.
descendo grave e suspiroso,
o Batido da Vida
vem impressionado e aborrecido,
e depois de uma pausa, olha à sua volta
interrompendo a pausa de Ruzante
que agarra qualquer coisa debaixo do capote, com dois dedos,
o indicador e o outro.
o Batido da Vida, depois de uma pausa trocista,
amigavelmente
com pena
põe-se em posição de corrida, ligeiramente soerguido
.................................. sobre a ponta de um pé sarcástico,
humilhado,
depois de uma pausa,
reanimado, receoso,
olha-o com comiseração
olha-o calmo Ruzante,
que entendendo-o superior
agita ameaçadoramente o pau,
agita o pau correndo para o fundo,
voltando-se para olhar, grita, pausa breve.
uma outra figura passa indiferente aos gritos festivos de Ruzante,
reage apenas voltando a cabeça.
o tom da resposta dela é gelado e cheio de desprezo,
com um gesto amigável diz,

- humilhada, olhando-te com desprezo de alto a baixo,
mantive-me afastada da discussão, mas entro agora na conversa,
oh Ruzante!

sinaliza o arranhão na cara de Ruzante.
este, explodindo,
ripostando de ricochete,
de novo humilhado e furioso,
agarra-a por um braço e tenta arrastá-la,
ela grita, desenvencilhado-se.
ele arrastando-a novamente com sarcasmo,
e ela que se conseguiu safar,
corre para o seu Rufia, gritando.
Rufia aproxima-se, enfrenta Ruzante e dá-lhe umas punhadas,
Ruzante deixa-se logo cair sem esboçar a mínima defesa.
Batido da Vida encosta-se a observar.
Rufia dá mais umas punhadas a Ruzante
e depois agarra a puta por um braço,
e ela que assistiu impassível à cena, Rufia afasta-se ameaçador.
longa pausa.
Ruzante soergue ligeiramente a cabeça,
verifica que os dois já se afastaram e diz num fio de voz
levantando mais a cabeça
aparvalhado
reanimado

- olha o atónito!

ajudado pelo Batido da Vida, Ruzante põe-se em pé com dificuldade,
apanha o pau que deixara dependurado da braguilha.
cantarolando umas palavras e rindo forçadamente
senta-se à parte e diz

- Batido da Vida observa-me a menear o pau.
.
ri cada vez mais alto Ruzante, o sátiro.

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