Tuesday, March 27, 2007

04-09-2006

centenas de homens pastoreavam latas-de-conserva dispersas pela planície, o sol era uma pústula a apodrecer no céu; ao entardecer, os homens recolhiam pacientemente as latas-de-conserva, a cada um tinha sido confiado para que guardasse um número previamente determinado de latas. à noite chegavam os músicos, os cantores, os truões e as bailarinas, os homens reuniam-se num círculo à volta dos recém-chegados, numa leve dança até três voltas sem deixarem de ser o mesmo lugar no espaço. a mais nova das bailarinas, que os chamava, tinha extensões metálicas nos seios e guardava no interior de uma pequena mala de viagem uma floresta inventada num apartamento de uma grande cidade, e quando ela abria a mala podia ouvir-se o murmúrio de concha dos carros e das muitas vozes a circunscrever a floresta-de-vasos.
a mulher dizia
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- sei que vai chover, porque vejo uma borboleta ramificar-se continuamente.
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no final do espectáculo os homens deixavam nas mãos das mulheres que dançavam parte das latas-de-conserva que tinham trazido, e iam-se embora dissolvendo-se na substância líquida da noite

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