Thursday, March 22, 2007

Derivações VI

a partir do texto Nenhum lugar à minha espera de Alice Vieira.

a verdade é eu estar hoje tão cheia de ti,
a verdade é este cansaço
que nunca mais teve o tamanho dos teus braços.
não sabia que ias partir
e pensava ter muito tempo para te dizer muitas coisas.
foram muitas as justificações,
e todas tinham o ar sério das grandes decisões irremediáveis,
deixando-me a casa enorme,
que me está larga como um vestido emprestado.
é então assim que se morre - resignação estúpida
de todas as coisas sem remédio.
hei-de-te escrever uma carta que ninguém vai ler.
de súbito
tenho a sensação de que é a primeira vez que aqui estou,
e tivesse corrido muito, e no fim,
não houvesse nenhum lugar à minha espera.

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